Saídas Fotográficas: O Olhar Que Decide!
Saídas Fotográficas: O Olhar Que Decide!

Saídas Fotográficas: O Olhar Que Decide!

Fotografia, Identidade e Sociedade

Em cada clique, uma escolha. Em cada enquadramento, um recorte da realidade. O ato de fotografar vai além da simples captura de imagens: ele carrega consigo a responsabilidade de quem decide o que merece ser visto, lembrado e compartilhado. O olhar do fotógrafo não é neutro, e o objeto fotografado nunca é apenas um cenário.

O pão nosso de cada dia – Foto de Marcos Meneghessi

Quando um grupo de fotógrafos decide explorar um espaço para um passeio fotográfico, essa decisão reverbera além da estética. O local escolhido, suas histórias, suas marcas e até suas controvérsias dizem algo sobre o que se quer contar ao mundo. Ao escolher fotografar determinados espaços, paisagens, instituições ou eventos, é crucial considerar o contexto e as implicações sociais. Por exemplo, ao registrar imagens de organizações que enfrentam denúncias de abusos psicológicos e físicos, o fotógrafo pode, mesmo que inadvertidamente, reforçar ou legitimar práticas conservadoras e prejudiciais. Em contraste, ao direcionar a lente para comunidades indígenas, quilombolas ou pessoas em situação de rua, a fotografia pode servir como uma ferramenta poderosa para dar visibilidade a grupos historicamente marginalizados, destacando suas lutas, culturas e resistências. Essa escolha evidencia a responsabilidade ética envolvida na captura e disseminação de imagens, especialmente quando estas podem perpetuar narrativas de opressão ou, alternativamente, promover inclusão e conscientização.

Da mesma forma, ao fotografar paisagens deslumbrantes ou rostos de pessoas anônimas, é importante perguntar: estou apenas buscando a beleza ou estou contribuindo para uma narrativa? Uma paisagem intocada pode esconder conflitos ambientais e disputas territoriais. Um retrato pode capturar a essência de uma pessoa ou reduzir sua complexidade a um estereótipo.

A arte é um reflexo da sociedade, mas também é um instrumento de transformação. O fotógrafo é, por natureza, um curador de narrativas. O que ele decide mostrar contribui para manter estruturas de poder ou para questioná-las. O belo, o poético, o esteticamente “agradável” podem ser armadilhas que reforçam padrões excludentes, apagando realidades que incomodam. O viés político da fotografia não está apenas no conteúdo explícito da imagem, mas na decisão do que foi digno de ser registrado. Optar por ignorar as denúncias de um lugar, fotografar sem considerar o contexto social ou ambiental, é também um posicionamento.

Samba de Sábado – Foto de Marcos Meneghessi

Por isso, antes de sair para o próximo passeio fotográfico, vale refletir:

  • O que estou escolhendo mostrar ao mundo com minhas fotos?
  • Este lugar que vou fotografar contribui para reforçar narrativas conservadoras ou excludentes?
  • Estou capturando a beleza ou romantizando um espaço que silencia vozes importantes?
  • Ao fotografar paisagens e pessoas, estou respeitando suas histórias e contextos?
  • Qual é o impacto social da minha fotografia?
  • O passeio é só uma atividade estética ou um ato de reafirmação de privilégios?

Fotografar é mais do que ver; é interpretar, questionar e, acima de tudo, decidir.

O próximo passeio do seu fotoclube vale mesmo a pena?  Qual é a responsabilidade que você assume com o próximo clique? Ou melhor, de que lado da história você está?